Cá está ela, em primeira mão, a crítica ao tão falado (e premiado) filme sobre os cowboys gays.

Eu até gostava de poder ter uma opinião contrária à generalidade da crítica por esse mundo fora, só para ser diferente, mas a verdade é que não tenho alternativa senão render-me a Ang Lee e ao seu épico de amor.

Ennis Del Mar e Jack twist, dois cowboys do Oeste americano, vivem um amor escondido dos olhos do mundo durante 20 anos, depois de se terem conhecido no verão de 1963 e trabalhado juntos nas montanhas de Brokeback Mountain, aonde se apaixonaram.

Mas, é então este um hino ao amor gay e destinado a emocionar apenas esse público? Longe disso, Brokeback Mountain é uma universal história sobre o amor, que não se prende com clichés ou preconceitos, uma lição de amor para toda a gente.

Ang Lee está em controlo total da sua visão, tornando cada frame num grande momento e cada silêncio em ouro. As imagens na montanha de Brokeback Mountain são de uma beleza inexplicável. O realizador já tinha dado provas do seu talento atrás da câmera no lindíssimo O Tigre e o Dragão, mas em Brokeback Mountain o seu trabalho supera-se.

Se no início do filme nos pode fazer alguma confusão as cenas mais íntimas entre Jack e Ennis (os meus parabéns a Jake Gyllenhaal e Heath Ledger pela coragem), à medida que a história se desenrola acabamos por empatizar com os personagens e damos por nós a torcer para que o seu amor dê certo. A mensagem do filme acaba por quebrar as barreiras da sexualidade, tornando secundário o facto de serem dois homens apaixonados.

Ennis Del Mar é interpretado por Heath Ledger, que tem aqui o papel da sua vida (convenhamos, com a filmografia que o rapaz tinha não era dificil). Não simpatizava particularmente com o actor, mas confesso que depois de ver o filme tenho de ser justo e dizer que ele está fenomenal. A construção do personagem está muito segura e nem o facto de representar um homem de poucas palavras foi um obstáculo para Ledger, capaz de passar emoções com um simples olhar.

Jack Twist é interpretado por Jake Gyllenhaal e não há nada de novo a dizer sobre este jovem talento. Desde Donnie Darko a sua carreira tem subido consideravelmente, criando personagens tão distintas como a de Proof, de Moonlight Mile ou de Jarhead. Aqui tem novamente uma brilhante prestação que deveria converter-se, a meu ver, numa nomeação ao Oscar. A frase "I wish I knew how to quit you", proferida pelo seu personagem está destinada a ficar na memória de todos, ao lado de outras tão famosas como "You complete me" de Jerry Maguire ou "I'm the king of the world" the Titanic. O seu destroçado personagem é passível de nos arrancar uma lágrima ou outra.

Michelle Williams e Anne Hathaway, as esposas de Ennis e Jack, apesar do pouco tempo no ecrã brilham nos papéis secundários, especialmente Williams que dá uma performance perfeita da esposa enganada.

Está então na altura de alargarmos os horizontes e não deixarmos que o preconceito, ligado ao facto deste ser um romance homosexual, nos prive de tão bela obra cinematográfica. Não há que ter vergonha de ser heterosexual e gostar deste filme, é apenas sinal de que temos sentimentos.